sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Texto - Relato sobre um dia inesquecível



Esse post é dedicado a Murilo Ely.


Quando o Corinthians empatou com o Santos no Pacaembu, já pensei em comprar minha passagem para Buenos Aires, pois tinha quase certeza que o Boca Jrs. seria nosso adversário na final, apesar de o jogo deles ainda não ter acontecido.
Mas segurei a ansiedade. Eu, que sou tão ansiosa.
Quando tudo ficou definido, comecei a correr atrás das passagens. Porém, não achava um vôo de volta em horário conveniente. Muito em cima da hora.

Pensei em desistir. Mas sou corinthiana. Fé e esperança estão grudadas em mim. Até minha mãe me ajudou na empreitada (enquanto tantas mães - e pais - não conseguem entender essa paixão), pesquisando em sites das companhias aéreas e em agências.
Havia idas em ótimos horários e com preços mais convidativos ainda, mas não serviam.
Até que, de tanto escarafunchar, achei o que queria.
Vários amigos me mandaram email, enviaram mensagens e, se duvidasse, viria até pombo correio prá me "convencer". Não que eu precisasse ser convencida, tinha certeza do que queria, mas obstáculos apareciam de todos os lados. No entanto, obstáculos existem para serem transpostos.



Aí, com a passagem comprada, novo desafio: arrumar hospedagem. Essa parte até que foi tranquila.
Mas o mais complicado estava por vir: e ingresso?
Na segunda-feira, 25.06.2012, mais de 21 h, descubro que consegui. Um alívio sem tamanho.

Aí era hora de arrumar a mochila, pegar o caminho do aeroporto e ir atrás do sonho.
A primeira vez que estive em Buenos Aires foi em 2006 e, confesso, com uma boa influência da presença de Carlitos Tevez no Todo Poderoso.
Cidade muito agradável, com um povo nem tão agradável assim (alguns são ótimos, outros são antipáticos demais, além de mal educados).  
Quando conheci La Bombonera pensei: "quero ver um jogo aqui do meu Corinthians".
Seis anos se passaram.

O Corinthians iria jogar (como jogou) com o "temido" Boca Jrs no "caldeirão" de La Bombonera. Que deve ser respeitado, mas não precisa ser temido. E, se La Bombonera é um caldeirão, o Pacaembu é a própria fogueira.  
No meio do caminho, muitos amigos ainda não tinham certeza da entrada. Contudo, mesmo assim, foram. Porque sempre existe a esperança. Porque está na alma do corinthiano acreditar até o apito final.
Estávamos todos juntos nessa luta. E procuramos, e procuramos, e procuramos. E andamos, e choramos e continuamos tentando.

Até uma hora, lá pelos 47 do segundo tempo, em que tudo deu certo. E, aí, choramos ainda mais. Em um mundo tão marcado pelo individualismo, ter participado disso mantém minha fé de que a humanidade pode, sim, ser mais solidária. 
Invadimos Buenos Aires. Pintamos a cidade de preto e branco. Se o estádio fosse dividido meio a meio, haveria um número ainda maior de torcedores fiéis.
Tudo pronto, hora de ir. Antes, ver o ônibus do Timão sair, e mandar todas as nossas energias positivas.

Pegamos a van. E cantávamos sem parar. Chegamos ao estádio. Várias barreiras policiais. Uma volta enooooooooooooooorme para chegar ao portão visitante. Uma escadaria imeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeensa (pensem em algo gigantesco mesmo, de parecer que íamos ficar sem pernas de tanto subir e subir... e umas escadas mal conservadas demais) até chegar ao nosso lugarzinho. Estava com uma amiga, tão pequena quanto eu (mas só de tamanho), e precisávamos de um local em que enxergássemos, ao menos, alguma coisa.
Porém, só de estar lá, de fazer parte desse momento mágico e histórico, já valeu a pena.
Valeu a pena porque veio da alma e do coração. Um dia emocionante, algo que lembrarei pro resto da minha vida.



Um momento dividido com amigos, entre risos e lágrimas. A tensão e a explosão de felicidade. 
Alguns não entendem e, se você não entende, não tente racionalizar.
Não tem a ver com futebol. Tem a ver com "ser Corinthians". Tem a ver com sermos uma família. A família que nós escolhemos. Alguns podem dizer que "fomos escolhidos". Mesmo assim, nós optamos pela noção de "família".
Somos uma nação. De 30 milhões de loucos e privilegiados que querem, sim, títulos. Todos os possíveis e imagináveis. No entanto, está no sangue, no DNA, cravado no espírito a marca do corinthianismo. Que vai muito além do que é matéria.

Sentir La Bombonera tremer foi indescritível. A acústica é sensacional. A torcida do Boca que ficou bem em frente ao local em que estávamos realmente faz uma bonita festa. Mas quem disse que eles não se calam não sabe o que fala. Porque eu só conheço uma torcida que, nas situações adversas, grita e canta ainda mais alto. A Fiel. E, sim, ao contrário do que clamam por aí, há uma boa parte da torcida "boquense" que não faz esse barulho todo.
Nós cantamos sem parar (inclusive enquanto esperávamos para sair, após o final da partida). Tanto, que um policial argentino veio e disse "nunca vi uma torcida visitante fazer aqui o que vocês fizeram". E não venham os mal resolvidos de plantão dizer tosquices porque até vocês, lá no fundo, sabem o que ele quis dizer. Se têm tanto medo assim de verbalizar a verdade, permaneçam calados e deixem quem quer ser feliz, ser feliz!

Não estou falando de futuro, que a Deus pertence.
Estou falando de um momento histórico, emocionante e maravilhoso, compartilhado com pessoas especiais. Do esforço de todos nós para irmos atrás do que queremos, independentemente das dificuldades (coisa que um montão de gente por aí não faz, fechando-se atrás da própria covardia). 

Falo do grito de "Aqui é Corinthians" por duas baixinhas que deixaram embasbacados (e absolutamente sem fala) torcedores adversários.
Falo de representar milhões de pessoas que lá não puderam estar, mas cujo coração batia no mesmo compasso que o nosso.
Falo de dormir pouquíssimas horas, ter de trabalhar, estar cansada mas enfrentar a vida, depois de ter vivido um dia de pura emoção. Porque tudo vale a pena quando a alma não é pequena, já diria o grande Fernando Pessoa.

Vai Corinthians!    




 

Um comentário:

  1. Parabéns Ritinha!!!! Lindo texto!!! As tuas palavras conseguiram traduzir o meu sentimento e acredito que o sentimento de toda Nação Corinthiana.

    Vai CORINTHIANS....

    Walmir

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